Computadores Pessoais de 1980. MSX o padrão que evolui no Brasil e no mundo (Primeiro computador de JMJG)
"Quando se fala no padrão MSX, eu fico com lágrimas nos olhos, foi meu primeiro computador, que ganhei de meus pais, e foi comprado usado em 1987!(um novo era muito caro). Assim comecei minha história com informática e eletrônica". JMJG
O padrão MSX significa que ele é uma "arquitetura" de computadores, e não uma marca ou fabricante! Para um computador levar o logotipo MSX, ele tinha que possuir certas características, para que o mesmo pudesse ser considerado digno de levar este símbolo. O padrão MSX nasceu no Japão (terra amada e querida da eletrônica) em 1983, e foi criado por uma empresa de lá que era uma espécie de "subsidiária" da Microsoft. O MSX surgiu, para que os computadores pudessem ter um "padrão" ou seja serem compatíveis uns com os outros, o que hoje é universal, naquela época (1970-1980) não! Cada fabricante tinha sua própria arquitetura (IBM,Apple,Commodore,etc) então, se você comprava um computador, tinha que usar tudo da fabricante, incluindo acessórios, cartuchos e até mesmo os programas. Nada era compatível!
O MSX veio para que diversos fabricantes pudessem desenvolver computadores, mas que um acessório MSX pudesse funcionar em outro computador, não importando o seu fabricante! Sensacional!
MSX não tem um significado ainda explicado, alguns dizem que o M é (Microsoft), mas também pode ser "Machine" (máquina), S é software e X (Exchangeability). Mas o Japão afirma que o M é de Matsushita a fusão (National+Panasonic) S de "Sony" e X de (x-power). Enfim, seja como for MSX é o poder dos anos 80.
Praticamente todas as grandes fabricantes apoiaram a ideia e fabricaram seus computadores MSX,até hoje é possível encontrar computadores MSX de diversas marcas (Sony, Panasonic, Toshiba, National, Philips,etc).
E também diversos países adotaram o padrão MSX, ele foi sucesso quase mundial, apenas os EUA e Inglaterra e mais alguns poucos países, não adotavam o padrão MSX, e desenvolviam seus próprios padrões.
O padrão MSX foi descontinuado somente em 1995, com o lançamento no Japão exclusivo do modelo MSX-TurboR (Panasonic). Existiram quatro padrões MSX (MSX1,MSX2,MSX2+), sendo que o MSX-TurboR é exclusivamente um modelo japonês fabricado apenas pela Panasonic.
No Brasil o padrão esteve muito bem representado, pelas fabricantes de peso, Gradiente e Sharp!
Hardware Básico do Padrão MSX1
Numa época em que haviam outras arquiteturas famosas (Apple2, TRS-80,IBM-PC,ZX Spectrum,etc) o padrão MSX estabeleceu os seguinte hardware básico:
- Processador de 8bits usando o Z-80 (Zilog) com exatos 3,58Mhz de clock
- VPU (processador de vídeo) da Texas Instruments TMS9918/TMS9128
- Processador de Áudio PSG (Gerador de Áudio Programável) da General instruments AY-3-8910 com 3 canais + gerador de ruídos e efeitos.
- Controlador de Periféricos Intel 8255A
- Memória de Vídeo de 16Kb independente acessada pelo VPU.
- Memória RAM de 64Kb (expansível até 512kb)
- ROM com 32 Kb+interpretador Basic da Microsoft,carregado direto no Boot sem sistema operacional ativo.
- Slot para Cartucho (pelo menos 1)
- I/O para Fita K7 (gravador para armazenamento dos programas)
- Saída de vídeo RGB+RCA
- Saída de Áudio RCA+Falante Interno
- Saída para impressora Centronics
- Data Bus para acessórios (disk drive,etc)
- Entrada para JoyStick DB9 Kempson (padrão Atari 2600)
Processador Z80-Zilog padrão no MSX |
Este hardware relativamente "simples" era muito ágil para as grandes aplicações da época. O baixo custo do MSX era seu grande diferencial,com relação aos demais micros da época, além de compatibilidade com o sistema CP/M e IBM-PC, pois os disquetes poderiam ser lidos no MSX nos padrões DOS.
No Brasil dois fabricantes produziram seus modelos MSX, a Gradiente e a Sharp, ambas empresas padrão em excelência em tecnologia. Apesar dos modelos serem bem diferentes um do outro, eram totalmente compatíveis entre si (acessórios, periféricos, programas,etc).
Sharp HB- 8000 (HOTBIT)
Lançado em 1985, este MSX da Sharp era compacto e bem identificado. Era uma peça única, computador+teclado, e embutia um slot de cartuchos também na parte do teclado. A primeira versão era branco e cinza, mas depois houve uma versão preta com o sistema BR1.2 +gravador K7 Integrado, este modelo tinha uma preparação para ser transformado em um MSX2 mas nunca foi realizado pela Sharp. No Brasil é chamado de "RotBait" e muitas escolas adotaram este modelo no ensino da informática para crianças (eu tive as primeiras aulas de informática com um HotBit na minha escola em 1987).
Expert Gradiente (XP-800)
Também lançado em 1985, o MSX Expert tinha um visual mais moderno e futurista adotado pela maioria dos computadores. Custava na época perto de US$500 (era caro). Tinha a CPU separada do teclado, o que fazia com que a máquina ocupasse mais espaço na mesa, porém poderia acomodar o monitor na parte da cima da CPU, algo que o "Hotbit" da Sharp não podia. Outro destaque é que o Expert tinha Slot Duplo para Cartucho. A primeira versão 1.0 (cinza), era um MSX básico padrão, mas também foi amplamente explorado e modificado pela Gradiente. A versão 1.1 tinha correções no teclado e acentuação, a versão ExpertPLus tinha mais memória e cartão de vídeo com 80 colunas.O modelo preto DDPlus, tinha um floppy disk de 3 1/2 polegadas, embutido na CPU, exatamente no lado direito dos slots, onde já havia um espaço reservado para ele, desde a primeira geração.
JMJG teve um Expert 1.0, exatamente o modelo da foto.
Infelizmente, como é até hoje, o Brasil estava ainda muito fechado para as tecnologias, e havia uma lei da informática, protegendo as indústrias nacionais. O padrão MSX ficou parado mesmo no 1, enquanto no resto do mundo havia o nascimento do padrão MSX2,MSX2+. Tinham os famosos "kits de transformação" que eram vendidos, mas tudo muito caro e raro.
O MSX no Brasil e em muitos lugares do mundo, ficou mais famoso pela questão de ser video-game (console) do que propriamente um computador! Um fato lamentável, pois ele na verdade é um computador e não um console de jogos. Mas, muitas aplicações foram desenvolvidas para ele.
MSX EXPERT-GRADIENTE 1.0BR |
O teclado já era padrão QWERTY,com 88 teclas, e possuia teclas especiais que hoje não encontramos em computadores padrão PC. A tecla vermelha STOP (que era usada para encerrar a execução de programas em MSX-Basic), e as teclas verdes RGRA LGRA (que eram usadas para gerar caracteres especiais que serviam para criar gráficos em jogos). Um LED vermelho (IN USE) acendia para indicar que o teclado estava alimentado.
No console CPU, existia um botão Power (estilo push com retenção), e um LED que indicava quando o aparelho estava ligado ou não. Um slot de Cartucho A estava disponível no lado esquerdo,e já possui uma chave esperta, que desliga o micro cada vez que se abre a tampa. Isso era um problema comum na época, se queimava facilmente (Atari,etc) pois os usuários distraídos, tinham a mania de inserir/retirar cartuchos com o equipamento ligado. Resultado: Queimavam o produto. No MSX-Expert, os engenheiros não economizaram e colocaram uma chave que desligada o produto, caso a porta do Slot fosse aberta. Abaixo os conectores DB9 para JoySticks padrão Atari, dois para que até 2 jogadores pudessem jogar ao mesmo tempo.
Do lado direito, o Cartucho B era disponibilizado (exclusivo no modelo Expert), para que o usuário pudesse aproveitar melhor combinações como por exemplo. O usuário poderia inserir um cartucho interface no A, e depois um jogo no B, e rodar o jogo com suporte a Disk-Drive por exemplo. Ou seja, o Cartucho A tem prioridade no Cartucho B, e qualquer interface conectada no A, irá rodar primeiro. Não era possível rodar 2 cartuchos de Jogos por exemplo! Para o usuário tirar proveito e usar os 2 Slots ao mesmo tempo, deveria conectar no A, um cartucho especial (interface ou memória RAM), e ai teria o Slot B disponível para rodar seus jogos com mais memória RAM).
Conexões Traseiras (Expert Cinza)
Na parte traseira, existia um potenciômetro, para ajudar o volume do alto-falante interno (muito legal), as saídas RCA (Áudio+Vídeo) para se conectar amplificadores e monitores monocromáticos. Uma saída DataCorder para o gravador K7 (gravar programas e carregar jogos,etc) e uma saída RGB (para conectar a interface de vídeo colorido) assim poderíamos usar o MSX na televisão colorida de casa, uau! Todas elas tinham conector estilo DIN.
O BUS Expansion, era uma interface especial do MSX, para conectar modem,impressoras seriais, ou interfaces de disk-drive, etc. Não se podia usar periféricos que não estavam desenvolvidos para o padrão MSX, o cabo que encaixa ai é especial.
O Keyboard Input, era uma entrada especial, um conector único usado pela Gradiente. Nenhum outro teclado de computador pode ser conectado aqui. Somente o próprio teclado do Expert! A Saida de Printer, aceita apenas impressoras paralelas padrão Centronics! O porta fusível, a saída de energia para conectar monitor e gravador, e o seletor de voltagem 127/240V!
O modelo Expert DD+, já tinha uma traseira um pouco diferente, tinha uma chave de "reset" e não possuía "datacorder" já que tinha um drive de 3 1/2 embutido.
O Manual do Expert era bem técnico, assim como o de qualquer computador de época, seu usuário deveria entender bem de eletrônica, informática para que pudesse fazer um melhor aproveitamento. No manual tinham pequenos programas explicativos, desenvolvidos especialmente para que o usuário pudesse conhecer o "poder" do seu MSX.Eram destacadas a capacidade de 16 cores do processador de vídeo, com o branco+incolor, bem explorado em programas gráficos em jogos. Também existia a pinagem dos conectores, caso os usuários técnicos, quisessem construir/reparar os cabos de conexões com os periféricos. Outras informações mais técnicas para construção de interfaces e cartuchos de expansão.
Também era fornecido um Manual Técnico sobre o sistema Basic, uma espécie de Dicionário do Basic, onde tinham todos os comandos conhecidos, e programas exemplos para cada um deles, assim o usuário era incentivado a fazer seus próprios programas, e até mesmo vender para outros usuários. Claro, que existiam empresas que só faziam isso, mas naquela época era comum, o usuário criar seus próprios programas, pois o computador possuía o interpretador dos comandos. Um cartucho especial de demonstração do MSX Expert, era fornecido pela Gradiente, para que o usuário pudesse conhecer as novidades.
Periféricos Exclusivos do MSX
TA-1 Adaptador de Vídeo |
Para conexão de monitores padrão PAL-M (coloridos) ou até mesmo televisores comuns da época, era necessário o usuário adquirir um periférico especial. O TA-1, era um chaveador de vídeo, que "montava" o sinal componente de vídeo, usando a saída RGB fornecida pelo VDP/VPU. Podiamos ainda conectar via RCA de vídeo (composto) monitores ou televisões mais modernas, e do outro lado, Antena (fio chato paralelo, aquelas antigos) de 300 ohms, e saída de RF para televisão 300ohms também. A famosa chave de escolha de canal RF (3 ou 4). A graça é que diferente do usado no ATARI, este chaveador era automático, ou seja, quando se ligada o MSX, ele comutada sozinho o canal 3/4 no sinal de vídeo do MSX,sem necessidade do usuário fazer isso manualmente (como era feito no ATARI). Desligando o MSX, o chaveador libera o sinal da Antena normalmente.
Gravador de Dados K7 para MSX |
Os gravadores K7 eram unidades baratas e muito populares na década de 80, porém não eram as melhores unidades de armazenamento para os computadores. Isso pois cada gravador K7 tinha sua própria qualidade, e isso poderia atrapalhar a tarefa de gravação/leitura. O volume, tom, velocidade do motor, ruídos poderiam afetar a leitura/gravação de dados. Por isso era comum problemas de perder programas gravados em fitas, ou até mesmo se emprestar para um amigo, uma determinada fita, já que o gravador do computador seria diferente. Deveria se emprestar a fita+o gravador K7 para diminuir os riscos de problemas. Isso iria mudar, com as famosas unidades de disk-drive.
Unidades de Disk-Drive Floppy 3 1/2 polegadas |
Futuramente as unidades de disquetes 5 1/4 e 3 1/2 foram ficando mais baratas, e se popularizando nos computadores, elas eram muito mais confiáveis e não haveria mais os problemas de gravação de dados como nas unidades K7.
O MSX-BASIC tinha instruções de leitura/escrita em unidade K7(CSAVE,CLOAD) e outras diferentes para leitura/escrita em unidades disk-drive floppy (LOAD/SAVE).
Slots Duplos do EXPERT-GRADIENTE |
Cartucho especial do jogo GALAGA |
Cartucho do Jogo KINGS VALLEY |
O Cartucho tinha uma enorme vantagem que a fita K7 não tinha, a velocidade de leitura era extremamente rápida, quase instantânea! Não precisava ficar esperando vários minutos para o Jogo carregar! Dentro do cartucho tinha um chip de memória ROM, então está explicado a alta velocidade. Como não poderia ser gravado, os "Scores" dos jogos, não eram registrados para a próxima partida, e ao ser desligado o MSX, o usuário teria que começar tudo de novo! Para resolver isso, alguns jogos liberavam "senhas" para as fases, assim o usuário poderia continuar uma determinada fase. Mas não eram todos os jogos que tinha isso....
Cartucho do Jogo CIRCUS CHARLIE |
Processador de Som de 3 canais AY-3-8910 |
Por isso a maior qualidade dos jogos MSX eram suas músicas e efeitos especiais, melhores do que outros consoles no Brasil (ATARI, IBM-PC,etc). Os desenvolvedores de jogos exploraram bem estes recursos para a criação das melhores melodias. Alguns até nem jogavam direito, só ouviam as músicas kkkkk... Mais tarde haviam cartuchos de expansão FM-MUSIC, que inseriam capacidades musicais mais avançadas, usando o chip Yamaha YM2413. Com cartucho FM-MUSIC o MSX ganharia + canais que se somavam aos três canais do AY-3-8910 e até recursos MIDI para teclados.
No quesito JoyStick a grande novidade era o padrão de conector DB9, igual ao ATARI, eram inteiramente compatíveis. Uma ótima "jogada", pois como estes controles viviam quebrando (usuários sabem do que estou falando),sempre se tinha á mão um controle sobrando. E usuários do ATARI/MSX poderiam emprestar os controles sem medo de incompatibilidades. O JoyStick original do MSX-Expert era melhor ao tato, tinha um design mais atraente e botões mais suaves, bem como o movimento da alanca tinha um sistema de amortecimento.
Garantia dada na época pela autorizada Gradiente |
Enfim, o MSX no Brasil foi muito bem representado, e as duas marcas (Gradiente/Sharp) souberam construir máquinas dignas do padrão MSX. Uma pena que o Brasil ficou defasado no padrão, e o MSX2,MSX2+ não tenha vingado. Alguns dizem que a Gradiente e Sharp fizeram seus modelos inspirados em outros modelos importados (engenharia reversa), porém existem muitos MSX iguais, já que o hardware básico é sempre o mesmo, não tem muito o que inventar....
Até hoje, o "mercado de MSX" continua ativo no mundo, com a constante compra/venda de aparelhos e periféricos. SIM, o MSX ainda continua vivo e no Brasil também. Algumas empresas ainda desenvolvem aplicativos para ele.
O MSX também possui emuladores, que conseguem muito bem explorar os recursos da época. Para sistemas Windows/Linux temos emuladores disponíveis para serem baixados, bem como ROM de Jogos e aplicativos.
Para os fãs brasileiros, temos uma excelente notícia. Publicaremos ainda muito material sobre o MSX, incluindo Vídeos,Jogos, ROM e emuladores.
Para maiores detalhes técnico, o Museu da Computação Informática , mantem uma página com detalhes do MSX-Expert Gradiente. Clique aqui para ver maiores informações que não comentei nesta postagem.
Viva o MSX, o padrão que me iniciou no mundo da informática e também fez o Brasil desenvolver muito sua tecnologia. Nossa homenagem aos profissionais que trabalham por décadas para desenvolver produtos/periféricos/jogos e muito mais!
Se tu participou ativamente deste desenvolvimento faça seu comentário abaixo, e deixe o público saber em que parte do projeto MSX tu estava envolvido! Será um prazer acolher os colegas desenvolvedores/técnicos nacionais!
Fiquem ligados, em breve mais novidades sobre o MSX! Algumas realmente de fazer chorar.
Temos o programa da tartaruga, e jogos clássicos como do Pinguim e outros....
Até mais.
Meu MSX EXPERT |
JMJG
(Engenheiro Eletrônico)
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